Saúde Mental
A ABRATA é uma associação civil sem fins lucrativos, constituída por pessoas físicas e jurídicas dispostas a colaborar para informar e educar a sociedade sobre a natureza dos transtornos do humor.
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Depressão e Transtorno Bipolar
Depressão
Considerada como uma das principais causas de incapacidade mundial a depressão é composta por diferentes sintomas que podem afetar não somente o humor da pessoa, mas também seus comportamentos e experiências. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2017) até 2015, a depressão atingiu cerca de 350 milhões de pessoas no mundo, tendo um aumento de 18% no período de dez anos (2005 a 2015).
Ainda não sabemos a causa específica da depressão, sendo atualmente a teoria mais aceita de que ela é de etiologia multifatorial, ou seja, fatores genéticos, neuroquímicos, ambientais, traumas, adaptações no desenvolvimento e variações hormonais contribuem ativamente para a sua expressão.
Sendo assim, é uma doença que não conhece barreiras. Qualquer pessoa, independentemente de renda, educação, raça, gênero, sucesso ou beleza, pode deprimir.
Alguns números e fatos
A depressão afeta cerca de 350 milhões de pessoas no mundo.
Um milhão de pessoas morrem por suicídio anualmente, sendo grande parte delas com quadros severos de depressão.
Pessoas com depressão têm 30 vezes mais probabilidade de tirar a própria vida.
Menos de 10% das pessoas que sofrem de depressão recebem tratamento.
Existem diferentes tipos de depressão e muitas formas de estar deprimido.
De acordo com o último Manual Diagnóstico e Estatístico – DSM 5-TR publicado pela Associação Psiquiátrica Americana, dentro da classificação dos Transtornos de Humor, podemos encontrar além do Transtorno Depressivo Maior outros tipos, tais como o Transtorno Depressivo Persistente (distimia), o Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor e o Transtorno Disfórico Pré-menstrual. Há também a possibilidade de termos a Depressão como consequência de outras doenças, ou induzida pelo uso de substâncias. Episódios depressivos podem ocorrer de forma sazonal, quando o seu aparecimento se dá em uma estação específica do ano (p ex. no outono ou inverno) ou decorrente de um evento, como na depressão pós-parto. Questões relacionadas ao luto podem induzir grande sofrimento, mas consideramos que não seja capaz de provocar um episódio depressivo maior.
Além do diagnóstico, é muito importante a identificação destes sintomas segundo a intensidade, ou seja, leve, moderada e grave. São considerados sintomas leves quando os sintomas são presentes, mas manejáveis, moderados quando os sintomas já causam algum prejuízo no funcionamento social ou profissional e grave quando os sintomas além de serem além do requerido para o diagnóstico também trazem grande incapacitação.
Uma observação importante a se fazer: existe a depressão no Transtorno Bipolar, que apesar de muito parecida com a depressão dos Transtornos Depressivos, requer um tratamento medicamentoso e psicoterápico diferentes. O erro no diagnóstico pode piorar os problemas se você tiver o Transtorno Bipolar e estiver fazendo tratamento para Transtorno Depressivo Maior.
Transtorno Bipolar
É um transtorno mental com causas biológicas, neuroquímicas e psicossociais em que existe uma alteração do humor, com períodos em que a pessoa vivencia episódios de humor recorrentes (maníaco, depressivo e hipomaníaco). Apesar de muitas vezes o TB ser associado a sintomas de euforia, vale recordar que os sintomas (hipo) maníacos são observados também pelo humor expansivo, irritável ou aumento de atividade e/ou aumento de energia, cuja durabilidade deve ser igual ou maior do que 4 dias.
Alguns números e fatos:
- O Transtorno Bipolar afeta cerca de 140 milhões de pessoas no mundo.
- Apesar do fator genético ser importante no TB (cerca de 80%), ele não é determinante para que filhos de pais com TB manifestem a doença
- O Transtorno Bipolar aparece em sua maior parte das vezes entre a adolescência e fase jovem adulta
- 50% dos portadores da doença tentam o suicídio pelo menos uma vez na vida e 15% realmente se suicidam.
- Atualmente, as pessoas levam em média 10 anos para serem diagnosticadas com transtorno bipolar. O desconhecimento, o preconceito e a auto estigmatização sobre esse transtorno do humor são os principais motivos que levam à demora no diagnóstico.

De acordo com a Associação Psiquiátrica Americana, além do Transtorno Bipolar I e II, existem também outras classificações relacionadas, tais como o Transtorno Ciclotímico e o Transtorno Bipolar como consequência de outras doenças ou induzida pelo uso de diversas substâncias.
O Transtorno Bipolar Tipo I diferencia-se do de Transtorno Bipolar Tipo II pela presença de algum episódio anterior de mania, duração dos sintomas apresentados e pela manifestação de sintomas psicóticos durante episódio maníaco. No Transtorno Ciclotímico, há a presença de vários períodos de sintomas hipomaníacos, mas que não satisfazem os critérios para hipomania nem depressão. Quando ocorre um episódio depressivo maior após os dois primeiros anos de Transtorno Ciclotímico, é estabelecido o diagnóstico adicional de Transtorno Bipolar tipo II.
Os sintomas e como reconhecê-los
Geralmente quando a depressão é leve, a maioria das pessoas tem dificuldade de percebê-la -ou nem a percebe-, podendo levar ao agravamento da doença.
Existe também dificuldade em reconhecer a hipomania, pois pode ser confundida com um momento de maior disposição e bem-estar ou ainda achar que os comportamentos explosivos e irritados fazem parte só da personalidade da pessoa – “ele é estouradão! Ela é pavio curto! Ele é arrogante!”
Ainda não há exames específicos para detectar a Depressão ou o Transtorno Bipolar, embora existam estudos e pesquisas em andamento. Por isso é importante procurar um profissional de saúde (psiquiatra por exemplo) para investigar ao notar mudanças no comportamento e no humor da pessoa.
As manifestações não são iguais para todas as pessoas, mas os sintomas mais comuns são:
Depressão (tanto nos Transtornos Depressivos como no Transtorno Bipolar)
- Sentimentos persistentes de inutilidade, rejeição, angústia, vazio e/ou culpa
- Pessimismo e desesperança
- Desânimo e choro significativos
- Dificuldade de concentração ou de tomar decisões devido insegurança, medos e indecisões
- Baixa autoestima
- Fadiga, cansaço ou baixa energia
- Insônia ou hipersonia (sono aumentado)
- Perda de apetite, perda de peso ou ganho de peso
- Inibição geral das funções, lentidão na fala e nos movimentos
- Pensamentos de morte ou de suicídio
- Irritabilidade, explosões de raiva, ansiedade ou inquietação
- Diminuição da libido
- Incapacidade de sentir prazer em atividades que antes da depressão eram agradáveis
- Isolamento social
- Dores e outros sintomas físicos geralmente não justificados por outros problemas médicos, tais como, cefaleias, sintomas gastrintestinais, dores pelo corpo, pressão no peito
Mania e Hipomania
Os sintomas são os mesmos, mas, na Hipomania, há um curso clínico de menor duração, ausência de sintomas psicóticos e não necessita de hospitalização e/ou internação para a prevenção de danos a si ou a outras pessoas.
- Autoestima excessivamente elevada – alegria e bem-estar inabaláveis
- Irritabilidade e/ou agressividade
- Redução da necessidade de sono (pode se sentir descansado dormindo apenas 4 horas por noite)
- Sentimento de grandeza – a pessoa imagina que é especial ou possui habilidades especiais, é capaz de considerar-se um escolhido por Deus, uma celebridade, um líder político (delírios)
- Falta de crítica levando a exposição a riscos (sente-se invencível, acha que nada poderá detê-la)
- O senso de perigo fica comprometido, e envolve-se em atividade que apresentam tanto risco para integridade física como patrimonial: gastos e compras desenfreados, comportamentos sexuais de risco, investimentos financeiros insensatos, situações de perigo para os outros e a si próprio (pela ausência do medo)
- A pessoa pode se envolver em vários projetos novos ao mesmo tempo
- Muita energia – mesmo sendo produtiva, existe uma hiperatividade, não consegue ficar parada, sentada por mais do que alguns minutos ou relaxar
- A pessoa fala mais rápido / fala mais do que o habitual
- Seus pensamentos parecem acelerados com um “turbilhão de ideias”
- Distraibilidade (atenção desviada facilmente para questões não tão relevantes)
- Mesmo estando alegre, explosões de raiva podem acontecer
Em crianças e adolescentes, os sintomas são os mesmos, porém podem ser confundidos com falta de educação, birra, agressividade, irritabilidade, falta de motivação, mau humor, tristeza ou muita energia, animação e ansiedade e isso acontece porque geralmente eles têm dificuldades em se expressar e nomear as próprias emoções ou por acharem que estas características são típicas da fase da adolescência.
Quando devo buscar ajuda
Buscar ajuda é sempre necessário. Em especial, quando você notar que tem pelo menos, cinco dos sintomas listados para depressão ou três dos sintomas de mania/hipomania comentados acima que persistem por mais de uma semana. Quando este período se estende por duas semanas ou você já percebe prejuízos em seu funcionamento, o ideal é que procure auxílio profissional de um psiquiatra e psicólogo para uma avaliação mais profunda e completa. Quanto antes reconhecer e tratar o transtorno, melhor!

Psicoeducação - Conhecimento e Informação
A Psicoeducação: propõe-se informar e educar as pessoas com transtorno bipolar e depressão a respeito da doença e seu tratamento e como reconhecer os sinais de recorrência, de modo que se possa procurar uma intervenção imediata, antes que ocorra um episódio franco da doença. A psicoeducação também pode ser indicada para os membros da família.
Apesar de ser prioritário, o tratamento medicamentoso não é suficiente, pois, uma vez controlados os fatores biológicos, faz-se necessário trabalhar com a pessoa para ela recuperar sua capacidade funcional e lidar com os prejuízos acarretados pelas consequências do transtorno (perdas de emprego, de relacionamentos, de oportunidades, da autoestima e construção de uma visão negativa da vida, entre outros).
As atividades de psicoeducação têm o propósito de oferecer instrumentos para os familiares e para a pessoa com transtorno bipolar e depressão lidarem com a doença e a participar ativamente de seu tratamento.
Todas as atividades e serviços oferecidos pela ABRATA são fundamentados nos princípios da psicoeducação, na valorização da história de cada um para o enfrentamento e superação dos problemas cotidianos, na melhoria da qualidade de vida e bem-estar da pessoa com depressão ou transtorno bipolar e do familiar.
Problemas que comprometem o resultado terapêutico
A magnitude das consequências depende da combinação de uma série de fatores: idade de início (quanto mais cedo, mais o transtorno compromete os estudos e a formação profissional), gravidade dos sintomas, quantidade de episódios, tratamento adequado, aceitação do tratamento, apoio familiar, associação com alcoolismo ou abuso de drogas (praticamente impossibilita o tratamento), associação com outras doenças, características de personalidade (fragilidade, imaturidade, dependência), problemas persistentes considerados sérios pela pessoa, dentre outros diversos fatores. Vale lembrar que esta lista é variável, de forma que listamos apenas alguns dos problemas que podem acontecer.
Como a família e os amigos podem ajudar
Antes, é importante saber que:
A pessoa não escolhe ter o transtorno, seja ele depressão ou transtorno bipolar e nem é culpada em tê-lo.
Estar depressivo não é estar triste e estar em mania ou euforia não é estar alegre.
Não é falta de fé, religião ou de crença em um ser superior.
Respeito, compreensão, paciência e apoio são fundamentais.
Ouvir, acolher e auxiliar sem julgamentos e sem cobranças serão incentivos importantes para a pessoa buscar, aderir e permanecer em tratamento.

- Ao notarem mudanças no comportamento da pessoa, antes de tudo, procure estar informado sobre as características da doença para que quando for conversar com a pessoa, consiga fazer uma comparação dos sintomas com seus comportamentos.
- Oriente e encoraje-a a buscar ajuda profissional.
- Sempre que possível, se disponibilize a acompanhar às consultas e se mostre disponível.
- Ajude-a a seguir as orientações médicas e psicoterápicas.
- Comunicar os profissionais que fazem o acompanhamento da pessoa em caso de suspeita de ideias, comportamentos e tentativas de suicídio e desesperança.
- Convidá-la para participar de atividades prazerosas, porém sem cobrança excessiva;
- Incentivá-la a adotar um estilo de vida saudável.
- Ajudá-la a perceber os “gatilhos”.
- Diminuir, na medida do possível, os impactos de eventos estressores sobre a pessoa.
- Lembrá-la de tomar o remédio.
- Estabelecer algumas regras de proteção durante fases de normalidade do humor, como retenção de cheques e cartões de crédito em fase de mania; auxiliar a manter boa higiene de sono; evitar drogas e álcool.
- Ao observar sinais de resistência ou piora, acionar os profissionais que fazem o acompanhamento e alertá-los – isso pode evitar o agravamento, uma recaída ou até a interrupção do tratamento.
- Construa uma rede de assistência – é muito comum surgirem dificuldades e dúvidas sobre como ajudar em situações em que a pessoa tem pensamentos negativos, falta de esperança, agressividade e resistência ao tratamento.
Fatores que desencadeiam os gatilhos dos episódios de euforia ou depressão
Os fatores variam de pessoa a pessoa, já que nosso cérebro não identifica os momentos, mas a intensidade deles. Algumas mudanças significativas ou situações estressantes mais observadas são:

- Perdas: doença, morte de alguém importante na vida da pessoa, separação, desemprego, dificuldades financeiras.
- Ganhos: casamento, reconciliação, gravidez, nascimento, melhora de padrão financeiro.
- Privação de sono.
- Alteração de fuso horário.
- Uso de álcool e drogas.
- Falta de rotina
- Parada ou diminuição da medicação.
Como a pessoa com depressão ou transtorno bipolar pode se ajudar
A pessoa com Transtorno Bipolar ou Depressão tem uma doença que costuma durar a vida toda, que se mantém sob controle com tratamento adequado, por isso, ela é a principal interessada no próprio bem-estar.
Ninguém pode forçá-la a buscar tratamento, a não ser em situações que ponham em risco a sua segurança ou a de outros. Portanto, se você apresenta o Transtorno Bipolar ou de Depressão:
- Cuide de seu tratamento – leve suas dúvidas ao seu médico, entenda sobre a eficácia dos medicamentos, possíveis efeitos colaterais e o que fazer em caso de intolerância a esses efeitos.
- Mantenha uma rotina de sono – mudanças no sono ou redução do tempo total de sono podem desestabilizar a doença; converse com seu médico, e busque uma rotina que possa favorecer o hábito de dormir.
- Evite álcool e drogas – além de interagirem com algumas medicações, também agem no cérebro, aumentando o risco de desestabilização da doença; se tiver insônia ou inquietação, não se automedique – converse com seu médico.
- Evite outras substâncias que possam causar oscilações no seu humor, como café em excesso, drinques, antigripais, antialérgicos ou analgésicos – eles podem ser o estopim de novo episódio da doença.
- Entenda seus sintomas sem preconceito – discuta com seu médico sobre eles suspeite também de traços de personalidade que podem ser na verdade ligados ao humor como “personalidade forte”, “preguiça” e “indiferença”
- Se não estiver bem para trabalhar, converse com uma pessoa de confiança sobre o seu transtorno. É mais sensato tirar uma licença, conversar com a família ou com o seu gestor, e se permitir convalescer do que sair do seu trabalho.
- Lembre-se: você está bem por tomar a medicação; se parar de tomá-la, mesmo após 5 ou 10 anos, os sintomas podem voltar sem prévio aviso. É preciso manter-se alerta para o aparecimento dos primeiros sinais, como insônia e irritabilidade.
- Há indícios de que quanto mais crises da doença a pessoa tiver, maior o risco de novos episódios e maior a gravidade. Por isso, procure participar ativamente do tratamento, cuidando para evitar novos episódios.
- Descubra seus sintomas iniciais de nova crise depressiva ou maníaca – tome nota e avise imediatamente seu médico.
- Aproveite períodos de bem-estar para redescobrir como você de fato é; como são os sentimentos de tristeza, alegria, disposição e como você lida com seus problemas.
- Quanto mais você conhecer a doença, melhor você poderá controlar os sintomas no período inicial. Proteja-se: evite estímulos de risco em potencial, como decisões importantes, relações sexuais sem preservativos, projetos ambiciosos, gastos – ponha seus planos no papel e espere para executá-los quando se reequilibrar; procure canalizar hiperatividade ou ideias negativas para atividade física ou manual; se estiver deprimido, dê-se um empurrão, pois a iniciativa está em baixa.
- Procure e aceite ajuda da família e dos amigos quando perceber que não consegue se cuidar sozinho.
- É comum querer parar o tratamento, ou porque vai tudo bem, ou porque não está dando certo. Procure conversar com outras pessoas com o mesmo problema, que já passaram por isso. Lembre-se de como era seu sofrimento; discuta com a família se valeria a pena buscar uma segunda opinião sobre o diagnóstico e o tratamento.
Perguntas Frequentes
Transtornos de ansiedade: o que preciso saber
O que é ansiedade?
Ansiedade é uma reação natural, útil para se adaptar e reagir perante situações de medo, expectativa, estímulos desestabilizadores ou que possam atemorizar as pessoas. Coloquialmente, classificamos a ansiedade como “ansiedade normal”, proveniente de uma resposta selecionada durante a evolução da espécie, como forma de lutar ou fugir de uma situação real de risco, e a “ansiedade patológica”, que ocorre quando as respostas comportamentais e emocionais se mostram mais intensas do que o esperado para a situação de enfrentamento sendo então essa ameaça imaginária.
Desta maneira, consideramos que a ansiedade se torna patológica quando atinge um valor extremo, com caráter sistemático e generalizado, em que começa a interferir com o funcionamento saudável da vida do indivíduo, presentes ao longo de seis meses.
Quando patológica, o quadro de ansiedade vem acompanhado por sintomas como tensão, apreensão ou medo em que o foco de perigo antecipado pode ser interno ou externo1. A palavra “ansiedade” tem origem no latim anxietas, que significa “angústia”, “ansiedade”, de anxius = “perturbado”, “pouco à vontade”, de anguere = “apertar”, “sufocar”.
A reação de pânico (fuga ou luta) é entendida então como um tipo específico e intenso de medo.
Figura 1 – Gráfico de Desempenho x Excitação (Yerkes e Dodson, 1908)¹.

Tipos de transtorno de ansiedade
- Transtorno de Ansiedade Generalizada²: Preocupação excessiva e irrealista perante situações rotineiras da vida, como emprego, saúde e pequenos problemas do cotidiano; pode ocorrer inquietação, nervosismo, irritabilidade, cansaço, tensão muscular, dificuldade de concentração e insônia.
- Transtorno de Pânico²: caracterizados pela ocorrência de ataques de pânico com crises repentinas e repetidas de ansiedade, medo ou terror em questão de poucos minutos, sem causa aparente. São acompanhadas de sintomas físicos, como falta de ar, dor no peito, batimentos cardíacos rápidos ou irregulares, suor excessivo, tremores, formigamentos, tontura, podem ter a sensação de colapso físico ou medo de morte iminente.
- Transtorno de ansiedade fóbicas²:
– Agorafobia: medo de certos lugares ou situações em que se sintam presos, impotentes ou envergonhados. Esses sentimentos levam a ataques de pânico. Quem sofre desse tipo de ansiedade acaba evitando certos lugares para fugir desses possíveis ataques. Restringe a vida normal da pessoa.
– Fobia Específica: Medo irracional de objetos, animais ou situações. Ex: Andar de avião, baratas, aranhas, armas ou facas.
– Fobia Social: Envolve algum tipo de desempenho diante de outras pessoas, como ter que falar em público, comer na frente dos outros etc.
Características e sintomas
Os transtornos de ansiedade são os mais comuns entre os transtornos mentais, em qualquer faixa etária, porém têm idade de início muito mais precoce que a maioria dos outros transtornos mentais. Por estes motivos, apresentam o maior impacto econômico 3, 4.
O início precoce da ansiedade a torna um forte preditor de instalação de outros transtornos e do abuso de substâncias, principalmente o álcool. Há um alto custo social, como redução da escolaridade, casamento precoce, instabilidade conjugal, baixo nível de emprego e pior situação financeira 5.
Os sintomas podem variar muito de pessoa para pessoa, entretanto, quando se entra em estado de alerta, causado pela ansiedade, o corpo reage de maneira bem específica para a ansiedade.
Sintomas psicológicos | Sintomas físicos |
Medo irracional | Aumento da frequência cardíaca |
Sensação de nervosismo | Dor no peito |
Agitação e inquietação | Respiração rápida ou hiperventilação |
Sentimento de que algo ruim vá acontecer | Transpiração intensa e fria |
Evitar coisas que provocam ansiedade | Espasmos musculares |
| Fraqueza |
| Dificuldade de concentração |
| Insônia ou sono interrompido |
| Problemas gastrointestinais |
O diagnóstico precoce e o tratamento imediato têm um papel central nos indivíduos portadores de transtornos de ansiedade. Por isso, se sentir que a ansiedade está atrapalhando sua rotina diária e causando-lhe sofrimento procure um médico psiquiatra, ou um psicólogo, que irá ajudar a entender a origem das crises.
A ansiedade é provocada por acontecimentos externos e conflitos internos, ou seja, de natureza biológica e psicológica, portanto não há assim um único fator desencadeante.
Tratamentos psicoterápico e medicamentoso

O tratamento de base é a psicoterapia6, entretanto pode envolver associação do uso de medicamentos com a psicoterapia, de forma a tratar a causa biológica e promover a resolução dos conflitos psicológicos que podem estar na sua origem.
O uso de fármacos é muito frequente e é em geral muito eficaz, porém, o seu uso pode trazer efeitos adversos e, em alguns tipos de fármacos (como os benzodiazepínicos) pode ter risco de dependência. A principal classe de medicamentos utilizada é a dos antidepressivos, que melhoram muito os transtornos de grau moderado a grave.
Algumas vezes, a suspensão do tratamento farmacológico costuma favorecer o retorno dos sintomas de ansiedade. Por isso deve ser realizada em conjunto com o médico.
Outras modalidades de tratamento - mudança no estilo de vida
- Pratique atividade física: uma rotina de exercícios, pelo menos três vezes na semana, diminui a ansiedade e o estresse do dia a dia.
- Evite o uso de álcool, cigarro e outras drogas: há piora da ansiedade ao longo do tempo.
- Consuma menos cafeína e estimulantes com cafeína: deixa as pessoas em estado de alerta, ligadas, e piora os sintomas da ansiedade.
- Sono: procure dormir de 6 a 8 horas diárias, já que a insônia dá inquietação e irritabilidade.
- Alimentação saudável: coma frutas e verduras, mantenha-se hidratado e evite frituras.
- Cuide do seu tempo: diminua as preocupações excessivas, procure ter mais tempo para relaxar e apreciar os amigos.
- Gestão de estresse: faça aulas de yoga, meditação, ou outras atividades que ajudam a reduzir as crises de ansiedade.
PSICOEDUCAÇÃO: ajuda o paciente a reconhecer e a controlar os sintomas de ansiedade, reconhecer os sinais precoces de descompensação (sintomas emergentes), diminuir necessidade de medicamentos e hospitalizações, bem como auxilia no aumento do nível de funcionalidade e adesão à medicação.
A família e os amigos também podem ajudar no tratamento: evitar o estigma e o preconceito, sem fazer comentários críticos e preconceituosos; ajudar a construir um ambiente familiar harmônico, com mais tolerância e acolhimento, evitando críticas e discussões.
Associações: Participar de associações sem fins lucrativos que desenvolvem programas psicoeducacionais e promovem a formação de grupos de autoajuda, como a ABRATA.
Referências bibliográficas
- Yerkes RM, Dodson JD. The relation of strength of stimulus to rapidity of habit-formation. J Comp Neurol Psychol. 1908;18:459–82.
- American Psychiatric Association (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5), Porto Alegre: Artmed, 2014.
- Sylvester CM, Pine D. Anxiety disorders. In Joan L. Luby (Ed.), Handbook of preschool mental health: Development, disorders, and treatment. 2nd ed. New York, NY: Guilford. 2016.
- DuPont RL, DuPont CM, Rice DP. Economic costs of anxiety disorders. In D. J. Stein & Hollander (Eds.), Textbook of anxiety disorders. Washington, DC: American Psychiatric Publishing. 2002; pp. 475–483.
- Kessler RC, Ruscio AM, Shear K, Wittchen HU. Epidemiology of anxiety disorders. Curr Top Behav Neurosci. 2010;2:21-35.
- Barlow DH. Anxiety and its disorders. The nature and treatment of anxiety and panic (2nd ed.). Nova Iorque: Guilford. 2002.
- Rangé BR. Psicoterapias Cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. p.299-310.
O que são transtornos do humor?

Transtornos do humor (ou afetivos) são enfermidades em que existe uma alteração do humor, da energia (ânimo) e do jeito de sentir, pensar e se comportar. Acontecem como crises únicas ou cíclicas, oscilando ao longo da vida. Podem ser episódios de depressão ou de mania. Na depressão, a pessoa sente tristeza exagerada e desânimo e na mania um aumento da energia e euforia anormal. A maioria dos pacientes sofre apenas de depressão(ões) e alguns também têm manias. O termo mania não significa “mania de fazer alguma coisa” ou algum tique – é simplesmente o nome que o médico dá para a fase de euforia da doença maníaco-depressiva. Às vezes surgem sintomas depressivos e maníacos simultaneamente, os chamados estados mistos.
Os sintomas de euforia e depressão podem variar de um paciente a outro e no mesmo paciente ao longo do tempo, muitas vezes confundindo a ele e seus familiares.
O que significa "bipolar" no contexto de saúde mental?
Os transtornos do humor podem acontecer ao longo da vida dentro de um curso unipolar ou bipolar. No unipolar só ocorrem depressões e no bipolar depressão e mania. Pacientes que só tem manias são raros e contam como bipolares, porque costumam desenvolver depressão, cedo ou tarde.
Que tipos de transtorno do humor existem?
Os transtornos do humor podem ter frequência, gravidade e duração variáveis. Portanto, a depressão pode ser única ou recorrente (repetir-se várias vezes), de intensidade leve, moderada ou grave e durar semanas, meses ou anos. Se os sintomas persistirem por anos são chamadas de crônicas. Se for leve ou moderada, a pessoa ainda consegue realizar suas atividades, com algum esforço, algo impossível se ela for grave. A maioria das pessoas que sofre de depressão não acha que está doente porque não está gravemente deprimida, ou seja, incapacitada, desesperada ou angustiada. O transtorno depressivo persistente (ex-distimia) é um tipo de transtorno do humor com sintomas depressivos mais leves que da depressão, porém duradouros e oscilantes, em que predominam irritabilidade e mau-humor. A depressão pode ainda ocorrer em decorrência de alguma doença clínica ou como consequência de alguma substância.

Frequentemente é confundida com a personalidade da pessoa e costuma evoluir para depressão.
Basta uma única fase de hipomania ou mania, precedida ou não de qualquer tipo de depressão acima mencionada, para diagnosticar transtorno do humor bipolar. Depois da primeira (hipo)mania geralmente alternam-se depressões e euforias de intensidade variável.

Os transtornos de humor são divididos em transtorno bipolar tipo 1, tipo 2, ciclotimia e o aqueles devido à presença de uma substância. Se houve pelo menos um período de mania ou estado misto é bipolar tipo I; quando só aconteceram hipomanias – crises de euforia mais leves que mania – bipolar tipo II. O estado misto caracteriza-se pela superposição ou alternância num mesmo dia de sintomas depressivos e eufóricos importantes. Na ciclotimia se alternam durante anos sintomas de depressão e de euforia ainda mais leves, que duram apenas alguns dias. Pode ser confundida com um jeito de ser “instável”, “cheio de altos e baixos” e frequentemente antecede sintomas depressivos e eufóricos mais graves.
Se a depressão, a mania ou o estado misto estiverem acompanhados de alucinações (sentir, ver ou ouvir algo que não existe) ou delírios (pensar algo irreal, como achar-se culpado de coisas que não fez, que está sendo perseguido, que possui poderes especiais etc.) trata-se do subtipo psicótico.
O transtorno do humor bipolar também pode ser chamado de transtorno afetivo bipolar ou doença maníaco-depressiva.
Qual a frequência dos transtornos de humor e quem corre mais riscos?
Os transtornos do humor podem atingir mais de 20% da população em algum momento da vida. As depressões são duas vezes mais comuns em mulheres que homens, iniciam-se em geral entre os 20 e 40 anos de idade, acometendo cerca de 16 a 18% das pessoas. Já o Transtorno Bipolar tem um acometimento de cerca de 1 a 2% dos homens e mulheres, tendo seu início mais precoce, entre 15 e 30 anos de idade, sendo que o TB II tende a ter uma média de início um pouco mais tardia que o TB I. Nas crianças, os transtornos do humor podem se apresentar com mais sintomas ansiosos e irritabilidade predominantes.
Quais são as causas do transtorno bipolar?
Desconhece-se as causas exatas do transtorno bipolar, mas aparentemente o fator genético é determinante. Existe uma interação complexa entre fatores ambientais e internos com graus variáveis de vulnerabilidade genética. Inúmeros estresses podem desencadear ou mesmo manter as primeiras crises. Dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma pessoa importante, uso de drogas, de inibidores de apetite, parto, etc. podem desencadear a doença em pessoas predispostas.
Parentes de primeiro grau de pacientes com transtorno bipolar do humor podem apresentar outros diagnósticos ou tipos classificatórios (ex. bipolar tipo I, depressão, ciclotimia).
É muito comum a pessoa atribuir a acontecimentos importantes, a problemas financeiros, profissionais ou sociofamiliares as razões para entrar em depressão ou (hipo)mania. É mais comum ainda que ao menos parte desses problemas sejam consequência dos sintomas iniciais da doença, que se agravam a partir daí.
Quais são os sintomas da depressão?

Na depressão, a pessoa fica com o humor para baixo, sente-se triste, apática, angustiada, ansiosa. Cai o nível de energia, aparece o desânimo, a dificuldade em sentir prazer na vida como antes, inclusive sexual. Ocorre uma lentificação psíquica e física, paradoxalmente associada ao desassossego quando a ansiedade é intensa. Fica difícil se concentrar, a memória falha, o raciocínio não flui mais. A mente é invadida por uma onda de pessimismo, de ideias e preocupações negativas.
Surgem sentimento de culpa, insegurança, medo, inutilidade, solidão, inadequação, baixa autoestima e falta de sentido. Tudo é avaliado dentro de uma visão negativa distorcida: passado, presente e futuro. Podem aparecer pensamentos de morte e alucinações. Ocorrem alterações de apetite e/ou peso. O tempo de sono deixa de ser reparador, e pode variar de um importante aumento até a uma grande dificuldade para dormir. Frequentemente há queixas de dores e mal-estar físico, resultando em várias visitas médicas sem sucesso, antes de se diagnosticar a depressão.
Como identificar alguém em depressão?
- Humor para baixo, tristeza, angústia ou sensação de vazio;
- Irritabilidade; desespero;
- Pouca ou nenhuma capacidade de sentir prazer e alegria na vida;
- Cansaço mais fácil, desânimo ou preguiça; falta de energia física e mental;
- Falta de concentração; lentidão do raciocínio; memória ruim;
- Falta de vontade; falta de iniciativa e interesse; apatia;
- Pensamentos negativos repetidos e amplificados; pessimismo: ideias de culpa, fracasso, inutilidade, falta de sentido na vida, doença, pensamentos de morte (cansaço de viver, vontade de não viver e até planos ligados ao suicídio);
- Sentimento de insegurança, baixa autoestima, medo;
- Interpretação distorcida e negativa do presente, de fatos ocorridos no passado e do futuro;
- Redução da libido e do desejo sexual;
- Perda ou aumento de apetite e/ou peso;
- Insônia ou vontade de dormir demais, sem se sentir descansado;
- Dores ou sintomas físicos difusos, sofridos, que não se explicam por outras doenças: dor de cabeça, nas costas, no pescoço e ombros, sintomas gastrointestinais, alterações menstruais, queda de cabelo, entre outros.
- Em depressões graves, alucinações e/ou delírios.
Para fazer o diagnóstico, a pessoa precisa apresentar um período de humor deprimido ou de falta de interesse ou prazer pelas coisas associado a mais cinco dos sintomas acima listado, por um período igual ou maior do que duas semanas.
Qual a diferença de uma tristeza normal?
Sentimentos de alegria, tristeza, “fossa”, angústia ou luto fazem parte da vida. A pessoa com depressão percebe a diferença entre uma tristeza normal, que já sentiu antes, da tristeza da depressão, que significa sofrimento constante, que passa, mas retorna sem aviso prévio. Quem tem uma depressão reativa consegue resolver os problemas e não os torna maiores do que são. Se estiver estressado ou muito cansado, vai aproveitar bem suas férias.
A pessoa com depressão pode ter mais dificuldade para realizar atividades que antes lhe eram normais, pode ter uma sensação de incapacidade e não conseguir solucionar seus problemas – ou vê problemas onde não existem., Pode também apresentar maior sensibilidade a estímulos e feedbacks, e pode se perceber “patinando” em coisas anteriormente fáceis de resolver. Se sair de férias para descansar, leva a depressão junto.
Como é a mania?
O termo mania significa um estado mental alterado em que a pessoa se sente eufórica, acelerada e/ou muito irritada, “pavio curto”, podendo tornar-se agressiva verbal e fisicamente. Ocorre agitação ou inquietação, aumento da energia e redução da necessidade de sono. Os pensamentos se aceleram, aumenta a quantidade de ideias, a pessoa não consegue falar tudo que vem à mente ao mesmo tempo. Não consegue manter a atenção num único tema, começa a fazer muitas coisas ao mesmo tempo e não consegue terminar, tudo se torna importante. Tudo precisa acontecer imediatamente e há brigas e discussões. Os sentimentos podem ser de alegria exagerada e grande euforia ou mesmo de agitação incômoda e sofrida. Surgem autoconfiança e otimismo extremos, sensações de poder, influência, capacidade, inteligência, riqueza. Ela pode ter alucinações e achar-se imbuída de poderes ou dons especiais. Súbitos sentimentos de depressão podem vir e logo desaparecer. Muitos planos vêm à mente, ocorrem gastos excessivos, endividamentos, negócios irresponsáveis ou precipitados. Aumenta o contato social, a pessoa fica desinibida, deixa de se comportar de acordo com seu padrão. Na esfera sexual aumenta a libido, a desinibição, o erotismo. Em geral falta autocrítica, porque a pessoa sequer percebe as mudanças ou não as vê como algo ruim ou incompreensível.
Como na depressão, nem todos os sintomas necessitam estar presentes para que o médico faça o diagnóstico.
Como identificar quando uma pessoa está em mania?
- Humor para cima, exaltação, alegria exagerada e duradoura; irritabilidade (impaciência, “pavio curto”).
- Agitação, inquietação física e mental.
- Aumento da energia, da produtividade ou começar muitas coisas e não conseguir terminar.
- Pensamentos acelerados; tagarelice.
- Achar que possui dons ou poderes especiais de influência, grandeza, poder.
- Otimismo e autoconfiança exagerados.
- Aumento dos gastos; endividamentos.
- Distração fácil; tudo desvia a atenção.
- Maior contato social e desinibição; comportamento inadequado e provocativo; agressividade física e/ou verbal.
- Erotização; aumento da atividade e necessidade sexual.
- Insônia; redução da necessidade de sono.
- Quando grave, ocorrem delírios e/ou alucinações.
O que é hipomania?
Na hipomania, os sintomas têm menor duração quando comparados a mania, e ausência de sintomas psicóticos ou necessidade de hospitalização. É comum aparecer antes ou depois de uma depressão e durar alguns dias. Os sintomas são os mesmos, de menor gravidade e a pessoa não tem sintomas psicóticos. O humor geralmente é irritável e a pessoa se torna provocativa (achando sempre que os outros a provocam). O aumento de energia pode ser produtivo, mas a pessoa se dispersa mais e perde mais tempo em detalhes. Pode ter menos necessidade de dormir, tornar-se exageradamente otimista, segura de si, arrogante, enfim, sente-se acima dos outros. Aumentam as ideias, os planos, os gastos, a libido. Como na mania, pode também justificar toda a alteração do comportamento atribuindo-a a circunstâncias da vida ou jeito de ser, mas, por ser menos séria, frequentemente não é diagnosticada.

Como é o estado misto?
Como o próprio nome diz, nessa situação ocorrem simultaneamente sintomas das duas polaridades. Neste caso, é comum que a pessoa possa relatar uma falta de energia/cansaço com uma aceleração de pensamento, sentimento de culpa excessivos com aceleração de pensamento por exemplo.
Também pode sentir-se muito agitada, acelerada, fazendo gastos e ao mesmo tempo queixar-se de angústia, desesperança, pessimismo, vontade de morrer, ou seja, sentir-se ao mesmo tempo exaltada e deprimida. Frequentemente ocorrem estados mistos na passagem de uma fase de (hipo)mania para depressão ou vice-versa, com rápida alternância entre esses sintomas.
Está certo rotular as pessoas de maníaco-depressivas?
Rótulos se dão a produtos. Pacientes recebem diagnósticos médicos. Sem o diagnóstico correto é impossível elaborar estratégias de tratamento. Os sintomas que permitem diagnosticar o transtorno bipolar do humor são os mesmos independentemente de raça, cultura ou classe social. Eles se diferenciam da vida psíquica normal, alterando a forma de sentir, pensar e agir. Obviamente estão inseridos na vida da pessoa, mas não devem ser confundidos com características de personalidade, nem justificados somente por circunstâncias existenciais. Profissionais treinados na clínica psiquiátrica são habilitados para diagnosticar, respeitando o que cada indivíduo possui de único.
O que acontece se não tratar?
Existe a possibilidade de os sintomas melhorarem sem qualquer tratamento após semanas, meses ou anos. Mesmo antes de haver medicamentos eficazes, sabia-se que o paciente podia ter apenas um episódio de depressão na vida, com anos de remissão, antes de se voltarem os sintomas, ou apresentar episódios anuais ou intervalos de tempo cada vez menores alternados com períodos de doença cada vez maiores ao longo do tempo. É importante saber que com tratamento o estado maníaco ou depressivo passa mais rápido, sem deixar sequelas.
Pessoas que sofrem de transtorno bipolar levam em média 14 anos antes de serem diagnosticadas e/ou receberem tratamento adequado. Neste período e antes que seja totalmente controlado, os pacientes sofrem sofrimento físico e psíquico imensurável e podem ter acumulado perdas irreversíveis nos relacionamentos afetivos, nos estudos e no trabalho. Isto significa separações, repetência, incapacidade de exercer uma profissão, perda do emprego, invalidez precoce ou mesmo morte. Na depressão tudo se torna difícil e custoso: estudar, trabalhar, conviver com as pessoas.


Comprometem-se relacionamentos afetivos, na família, com o cônjuge, ou com colegas e amigos. Para atenuar o sofrimento, muitos se tornam usuários de tranquilizantes, álcool ou drogas. Além das perdas já mencionadas, a pessoa pode correr risco de vida por negligenciar cuidados com a saúde ou por suicídio.
Durante a mania, a pessoa se sente ótima e não consegue avaliar as consequências da irritabilidade, desinibição e sociabilidade na esfera pessoal. Atitudes tomadas durante a (hipo)mania podem resultar em rompimentos conjugais, com familiares e amigos ou em ruína financeira e endividamentos. Há risco de adultério, de gravidez indesejada, de contrair doenças sexualmente transmissíveis. Os pacientes podem perder o emprego, arruinar sua reputação, passar a abusar de álcool e/ou drogas. A combinação com o álcool é desastrosa, pelo risco de acidentes, violência e problemas com a polícia.
Eu tenho depressão. A culpa é minha?
Depressão é causada por alterações químicas no do cérebro, assim como epilepsia é causada por um distúrbio do cérebro. É uma doença que tem tratamento. Da mesma forma que não se deve sentir culpa por ter uma doença como epilepsia, não há culpa por ter depressão. Acredita-se que a depressão é sinal de um desequilíbrio químico cerebral nos chamados “neurotransmissores”.
Entretanto, a causa principal da doença não é claramente diagnosticada; é sabido que a química corporal pode levar a um distúrbio depressivo devido a outras doenças, alteração de hábitos salutares, abusos de certas substâncias ou alteração hormonal. Caráter fraco ou defeito de personalidade nunca causam depressão.
Eu tenho depressão/transtorno bipolar. Devo comunicar esse fato no meu emprego? Como?
Algumas pessoas sentem-se confortáveis em compartilhar os problemas que têm. Outras acham desnecessário ou arriscado informar aos seus empregadores sobre o seu diagnóstico. Para alguns, o diagnóstico e a necessidade de acomodação do tratamento na fase inicial provocam um impacto significativo em seu trabalho, e elas sentem a necessidade de informar seu superior a respeito de sua doença. Caso decida comunicar seu empregador, vá preparado para esclarecê-lo sobre a doença. Muitas pessoas desconhecem os fatos relacionados aos transtornos de humor e, compartilhando informação sobre o assunto, você poderá diminuir o medo ou estigma que possa existir.
Também esteja preparado para mostrar ao seu empregador como este diagnóstico poderá afetar o seu trabalho. Compartilhar suas próprias experiências a respeito dos transtornos do humor poderá ser um incentivo para que outros façam o mesmo. Entretanto, você deve sempre avaliar cuidadosamente o ambiente de trabalho, antes de fazer qualquer divulgação sobre sua doença.
Dose o nível de tolerância, confiabilidade e compreensão de seu empregador para só então falar de sua doença.
Acho que tenho depressão/transtorno bipolar. O que devo fazer?

Transtornos de humor são doenças que necessitam de tratamento como qualquer outra doença. Diagnosticá-los precocemente é muito importante. A maioria dos tratamentos inclui uma combinação de medicamentos, terapia e suporte. Evitar um tratamento devido a embaraço ou vergonha, ou porque se acredita ser possível “superar o fato” é uma decisão perigosa. Transtornos de humor não são algo que se possa “decidir” não ter, eles precisam de tratamento. Peça auxílio.
Ocorrem mais mortes devido a transtornos de humor não tratados que de doenças crônicas de fígado, doença de Alzheimer, homicídio, arteriosclerose ou hipertensão.
Eu tenho transtorno bipolar. A culpa é minha?
O transtorno bipolar é causado por alterações químicas cerebrais, assim como a epilepsia é causada por uma desordem no cérebro. É uma doença que tem tratamento. Da mesma forma que você não deve se culpar por ter uma doença como a epilepsia, também não deve se culpar por ter um transtorno bipolar. Acredita-se que o transtorno bipolar é um desequilíbrio químico cerebral nos chamados “neurotransmissores”.
Não se sabe claramente a causa direta dessa doença, sabe-se que a química corporal pode ocasionar um episódio depressivo ou maníaco devido a presença de outras doenças, alterações de hábitos saudáveis, abuso de drogas ou modificações hormonais. Estudos têm mostrado que a doença pode ser hereditária e que experiências de vida estressantes podem disparar alguns sintomas. Entretanto, não existem evidências que experiências estressantes ou eventos traumáticos na infância sejam a real causa desta doença. Caráter fraco ou defeito de personalidade nunca causam depressão.

É perigoso tomar bebida alcoólica e usar alguma droga ilegal?
Sim; fazer isso pode ser muito prejudicial. Sempre converse com seu médico, psiquiatra ou psicólogo antes de misturar álcool ou substâncias ilegais com a prescrição médica. Também tire suas dúvidas a respeito do medicamento para aprender mais sobre as interações da droga e seus efeitos colaterais. Tenha certeza de que está esclarecido a respeito de como o álcool e substâncias ilegais irão interagir em sua medicação. Educando-se você pode salvar sua vida.
Antes de fazer qualquer coisa, procure estar atualizado sobre os sintomas dessas doenças. Então escolha uma ocasião apropriada quando possa sentar-se calmamente com essa pessoa e explique por que acredita que ela possa estar com depressão ou transtorno bipolar, comparando o comportamento dela com os sintomas. Encoraje-a a procurar auxílio. Tranquilize-a explicando que está preocupado com ela e que gostaria de auxiliá-la a sentir-se melhor. Lembre-a de que ela não está sozinha e que tudo pode ser melhorado. Tente auxiliá-la a obter o máximo de informações sobre o assunto. É importante que ela consiga um diagnóstico de um profissional especializado em tratamento de depressão e transtorno bipolar. Acima de tudo, seja compreensivo e cuidadoso, mas resista ao ímpeto de atuar como terapeuta.
O que são transtornos afetivos?
Os transtornos afetivos ou transtornos do humor compreendem afetam atualmente cerca de 340 milhões de pessoas em todo o mundo. No caso da depressão, esta é apontada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como a quarta maior questão de saúde pública.
Estas doenças provocam uma alteração do humor do indivíduo, o que pode se traduzir no jeito de pensar, sentir e no comportamento dele.
Quando em depressão, a pessoa pode sentir desânimo, cansaço e tristeza exagerados, falta de energia ou vontade de viver.
Já o portador de transtorno bipolar percebe seu humor alternando entre crises de euforia e de depressão. Na crise de euforia a pessoa pode ficar muito irritada, acelerada e por vezes até agressiva.
As pessoas com transtorno bipolar podem sofrer oscilações de humor entre a euforia e a depressão por dias, semanas ou meses seguidos.
Muitos portadores destas doenças sofrem desnecessariamente por serem mal compreendidos, incorretamente diagnosticados ou por falta de um tratamento adequado.
Hoje, um tratamento adequado com acompanhamento correto pode ajudar qualquer pessoa portadora dessas doenças a ter uma vida produtiva, com qualidade e satisfação.
Referências
- Justo LP, Calil HM, Intervenções Psicossociais no transtorno bipolar. Revista de Psiquiatria Clínica 31, n. 2, pp. 91-99, 2004.
- Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition – DSM-5.
- LEAHY, Robert. Vença a depressão antes que ela vença você. Porto Alegre: Artmed, 2015.
- BASCO, M. R. Vencendo o transtorno bipolar com a terapia cognitivo-comportamental: manual do paciente. Porto Alegre: Artmed, 2009.
- MORENO, R.A. et al. Aprendendo a viver com o transtorno bipolar: manual educativo. Porto Alegre: Artmed, 2015.
- BRASIL. Organização Mundial da Saúde. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5385:com-depressao-no-topo-da-lista-de-causas-de-problemas-de-saude-oms-lanca-a-campanha-vamos-conversar&Itemid=839 Acesso em 19 de maio de 2018.