Dra Rosilda Antonio
Apesar de ser prioritário, o tratamento medicamentoso não é suficiente, pois, uma vez controlados os fatores biológicos, faz-se necessário trabalhar com o indivíduo para ele recuperar sua capacidade funcional e lidar com os prejuízos acarretados pelas consequências de seu transtorno (perdas de emprego, de relacionamentos, de oportunidades, da autoestima e construção de uma visão negativa da vida, entre outros). Para tratar das consequências psicológicas e sociais dos transtornos de humor são indicados os tratamentos psicossociais, ou seja, as diversas formas de psicoterapias. Um fator importante, qualquer que seja o tipo de abordagem psicossocial, é que o terapeuta tenha conhecimento do transtorno e possa reconhecer os seus sintomas e sinais significativos, a fim de orientar-se na condução da psicoterapia.
As abordagens psicossociais mais pesquisadas para o tratamento dos transtornos do humor são descritas a seguir:
- Terapia cognitivo-comportamental (TCC): ajuda pessoas com transtorno bipolar a aprender a modificar padrões de pensamento e comportamentos inadequados ou negativos associados à doença.
- Psicoeducação: propõe-se ensinar as pessoas com transtorno bipolar a respeito da doença e seu tratamento e como reconhecer os sinais de recorrência , de modo que se possa procurar uma intervenção imediata, antes que ocorra um episódio franco da doença. A psicoeducação também pode ser indicada para os membros da família. Constitui-se, em geral, de uma palestra sobre um tópico relativo ao TB seguido por um compartilhamento dos participantes tanto de dúvidas como de vivências.
- Terapia Focada na Família: é uma abordagem familiar criada por David Miklowitz, psicólogo americano, que usa estratégias psicoeducacionais, exercícios e também role playing, para reduzir o nível de angústia na família, identificar e modificar padrões disfuncionais de comunicação que tornam o ambiente familiar com alto nível de emoção expressa e que podem contribuir para os sintomas da pessoa ou, ao contrário, ser decorrente dos mesmos.
- Terapia interpessoal e do ritmo social: ajuda pessoas portadoras de transtorno bipolar tanto a melhorar as relações sociais como a regularizar suas rotinas diárias. Rotinas diárias e horários de sono regulares podem ajudar o paciente a evitar episódios maníacos.
Apesar de suas diferenças, todas elas têm como objetivo comum:
a) o controle dos fatores de risco associados à ocorrência e à recorrência de episódios, especialmente à não aderência ao tratamento farmacológico; e
b) a diminuição dos prejuízos e consequências psicossociais causados pelos transtornos e que não melhoram apenas com a redução da sintomatologia.
Segundo a Associação Psiquiátrica Americana, a maioria dos pacientes com TB enfrenta algumas das seguintes dificuldades:
- Conseqüências emocionais dos episódios de mania, depressão ou misto;
- Consciência de ter uma doença crônica;
- Contato com o estigma da doença;
- Prejuízos no desenvolvimento;
- Medo da recorrência de episódios;
- Dificuldades interpessoais no casamento, ambiente familiar e social;
- Problemas ocupacionais;
- Conseqüências legais e sociais decorrentes de comportamento inadequado ou violento durante as crises.
Todas essas dificuldades fogem do âmbito do tratamento medicamentosos e demandam intervenções psicossociais com vistas a dar instrumentos para o indivíduo portador lidar com seu transtorno e a participar ativamente de seu tratamento.
Bibliografia consultada
1. American Psychiatry Association (APA) – Diretrizes para o Tratamento dos Transtornos Psiquiátricos – Porto Alegre: Artmed, 2005
2. ROSO, M. C.; MORENO, R. A. Aspectos Psicossociais da Terapêutica In: MORENO RA, MORENO D H. Da psicose maníaco – depressiva ao espectro bipolar. 3ª. ed. São Paulo: Segmento Farma, p.457-478, 2008.
3. Colom F, Reinares M, Tratamientos psicológicos eficaces en los trastornos bipolares. In: Vieta E. Novedades en el tratamiento del Trastorno Bipolar. Madrid: Médica Panamericana, pp 73-84, 2003.
4. Justo LP, Calil HM, Intervenções Psicossociais no transtorno bipolar. Revista de Psiquiatria Clínica 31, n. 2, pp. 91-99, 2004.