Risco do Uso de Psicofármicos em Acidentes de Trânsito

Doris Hupfeld Moreno – Mestre em psiquiatria médica

Dirigir um veículo automotivo é uma atividade complexa que requer integridade do estado mental. Várias são as funções psíquicas necessárias para dirigir. Desde a capacidade de atenção e concentração até a coordenação e a rapidez psicomotora, incluindo reflexos adequados e boa capacidade de decisão, entre outros.

Tanto os transtornos mentais como o uso de psicofármicos ou outras substâncias psicoativas podem comprometer a capacidade de direção. De modo geral, atenta-se pouco a essa limitação na orientação aos pacientes, geralmente por esquecimento. Portanto, médicos, pacientes e familiares devem tomar precauções no sentido de se evitar acidentes de trânsito ou no trabalho, fornecendo orientação adequada, acatando sugestões ou intervindo de modo firme se for o caso do proibir a direção.

Entre os sintomas psicopatológicos, os pacientes podem apresentar distraibilidade e lentificação psicomotora, com reflexos diminuídos, entre outras dificuldades. Com o tratamento adequado, esse comprometimento, tende a se reverter. De acordo com o diagnóstico, serão mediados com antidepressivos, hipnóticos, benzodiazepínicos, antipsicóticos ou combinações destes. Substâncias mais sedativas estão associadas a maior risco de acidentes, principalmente no início do tratamento, porque frequentemente o paciente desenvolve tolerância aos efeitos colaterais.

Em 8% a 10% dos feridos em acidentes de trânsito, encontraram-se substâncias psicoativas. Entretanto, o estudo da interferência dessas, da associação de várias substâncias, do diagnóstico dos feridos, sofre limitações pela dificuldade na coleta de dados confiáveis, de modo que as estatísticas subestimam a realidade.

O papel da psicopatologia dos transtornos mentais em acidentes de trânsito não foi bem investigado, mas parece interferir pouco nas taxas. Pelo contrário, o uso e o abuso de álcool é o maior responsável por acidentes automobilísticos fatais e deveu-se ao álcool e representou a principal causa de morte em homens com menos de 37 anos. Mesmo em níveis baixos, o álcool interfere na atenção e no processamento de informações.

Quanto aos psicotrópicos, os ansiolíticos e os hipnóticos continuam sendo prescritos em larga escala e estão associados a maior risco de acidentes automobilísticos graves, principalmente pelo uso concomitante de álcool e na fase aguda do tratamento. Em relação aos benzodiazepínicos, o aumento do risco de acidentes é dose-dependente e significativamente maior com substâncias de meia vida longa, usadas como ansiolíticos. Além disso, esse risco é maior em motoristas menos experientes e que fizeram uso hipnóticos de curta ação, como zopidona.

A probabilidade de se encontrar drogas psicoativas e sedativas no sangue de indivíduos que causaram acidentes foi quatro vezes maior que nas vítimas desses acidentes. É necessário orientar quanto ao uso de antidepressivos, antipsicóticos e anticonvulsivantes no início do tratamento, principalmente quando associados entre si, antes do desenvolvimento de tolerância.

Cabe ao médico proibir a direção no início do tratamento e alertar a mudança no esquema terapêutico, coibir o uso de álcool e estar atento às alterações psicopatológicas. O cuidado com o comprometimento cognitivo e psicomotor deve ser maior no caso de benzodiazepínicos e estendido para hipnóticos de curta ação.

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