Outras Patologias

Outras Patologias 2023-06-15T12:11:04+00:00

Transtornos de ansiedade: o que preciso saber

Ansiedade é uma reação natural do ser humano, útil para se adaptar e reagir perante situações de medo ou expectativa, estímulos desestabilizadores ou que possam atemorizar as pessoas. Característica humana que foi selecionada durante a evolução da espécie, sendo adaptativa em níveis moderados.

O quadro de ansiedade vem acompanhado por sintomas de tensão, em que o foco de perigo antecipado pode ser interno ou externo1. A palavra “ansiedade” tem origem no latim anxietas, que significa “angústia”, “ansiedade”, de anxius = “perturbado”, “pouco à vontade”, de anguere = “apertar”, “sufocar”.

Ansiedade é a resposta emocional à antecipação de uma ameaça futura, enquanto o medo é a resposta emocional a uma ameaça iminente, real ou percebida.

Considerada, até certo ponto, normal, a ansiedade torna-se patológica quando atinge um valor extremo, com caráter sistemático e generalizado, em que começa a interferir com o funcionamento saudável da vida do indivíduo. A reação de pânico (fuga ou luta) é entendida como um tipo específico e intenso de medo.

Figura 1 – Gráfico de Desempenho x Excitação (Yerkes e Dodson, 1908)¹.

  1. Transtorno de Ansiedade Generalizada²: Preocupação excessiva e irrealista perante situações rotineiras da vida, como emprego, saúde e pequenos problemas do cotidiano; pode ocorrer inquietação, nervosismo, irritabilidade, cansaço, tensão muscular, dificuldade de concentração e insônia.
  2. Transtorno de Pânico²: caracterizados pela ocorrência de ataques de pânico com crises repentinas e repetidos de ansiedade, medo ou terror em questão de poucos minutos, sem causa aparente. São acompanhadas de sintomas físicos, como falta de ar, dor no peito, batimentos cardíacos rápidos ou irregulares, suor excessivo, tremores, formigamentos, tontura, podem ter a sensação de colapso físico ou medo de morte iminente.
  3. Transtorno de ansiedade fóbicas²:
    Agorafobia: medo de certos lugares ou situações em que se sintam presos, impotentes ou envergonhados. Esses sentimentos levam a ataques de pânico. Quem sofre desse tipo de ansiedade acabam evitando certos lugares para evitar esses possíveis ataques. Restringe a vida normal da pessoa.
    Fobia Específica: Medo irracional de objetos, animais ou situações. Ex: Andar de avião, baratas, aranhas, armas ou facas.
    Fobia Social: Envolve algum tipo de desempenho diante de outras pessoas, como ter que falar em público, comer na frente dos outros, etc.
  4. Transtorno de Estresse Pós- Traumático²: Aparecimento de um conjunto de sintomas característicos após um acontecimento extremamente estressante e traumático: assaltos, sequestro, desastres naturais, acidentes ou guerras que passa a ser revivido mentalmente com muito sofrimento, causando alterações do sono, flashbacks, hipervigilância, sobressaltos exagerados, comportamentos de evitação e dificuldade para relaxar em certos momentos e lugares.

Os transtornos de ansiedade são os mais comuns entre os transtornos mentais, em qualquer faixa etária, porém têm idade de início muito mais precoce que a maioria dos outros transtornos mentais. Por estes motivos, apresentam o maior impacto econômico 3, 4.

O início precoce da ansiedade a torna um forte preditor de instalação de outros distúrbios mentais e do abuso de substâncias, principalmente o álcool. Há um alto custo social, como redução da escolaridade, casamento precoce, instabilidade conjugal, baixo nível de emprego e pior situação financeira 5.

Os sintomas podem variar muito de pessoa para pessoa, entretanto, quando se entra em estado de alerta, causado pela ansiedade, o corpo reage de maneira bem específica para a ansiedade.

Sintomas psicológicos Sintomas físicos
Medo irracional Aumento da frequência cardíaca
Sensação de nervosismo Dor no peito
Agitação e inquietação Respiração rápida ou hiperventilação
Sentimento de que algo ruim vá acontecer Transpiração intensa e fria
Evitar coisas que provocam ansiedade Espasmos musculares
Fraqueza
Dificuldade de concentração
Insônia ou sono interrompido
Problemas gastrontestinais

O diagnóstico precoce e o tratamento imediato têm um papel central nos indivíduos portadores de transtornos de ansiedade. Por isso, se sentir que a ansiedade está atrapalhando sua rotina diária e causando-lhe sofrimento procure um médico psiquiatra, ou um psicólogo, que irá procurar entender a origem das crises.

A ansiedade é provocada por acontecimentos externos e conflitos internos, ou seja, de natureza biológica e psicológica, portanto não há assim um único fator desencadeante. Os transtornos de ansiedade com tratamento adequado são possíveis obter um controle.

O tratamento de base é a psicoterapia6, entretanto pode ser associação do uso de medicamentos com a psicoterapia, de forma a tratar a causa biológica e promover a resolução dos conflitos psicológicos que podem estar na sua origem.

O uso de fármacos é muito frequente e é em geral muito eficaz, porém, o seu uso pode trazer efeitos adversos e, em alguns tipos de fármacos (como os benzodiazepínicos) pode ter risco de dependência. A principal classe de medicamentos utilizada é a dos antidepressivos, que melhoram muito os transtornos de grau moderado a grave.

Algumas vezes, a suspensão do tratamento farmacológico costuma favorecer o retorno dos sintomas de ansiedade. Por isto deve ser realizada em conjunto com o médico.

  1. Pratique atividade física: uma rotina de exercícios, pelo menos três vezes na semana, diminui a ansiedade e o estresse do dia a dia;
  2. Evite o uso de álcool, cigarro e outras drogas: há piora da ansiedade ao longo do tempo;
  3. Consuma menos cafeína e estimulantes com cafeína: deixa as pessoas em estado de alerta, ligadas, e piora os sintomas da ansiedade;
  4. Sono: dormir de 6 a 8 horas diárias, insônia dá inquietação e irritabilidade;
  5. Alimentação saudável: coma frutas e verduras, mantenha-se hidratado e evite frituras; 6. Cuide do seu tempo: diminua as preocupações excessivas, procure ter mais tempo para relaxar e curtir os amigos;
  6. Gestão de estresse: faça aulas de yoga, meditação, ou outras atividades que para você ajudam a reduzir as crises de ansiedade.

PSICOEDUCAÇÃO: ajuda o paciente a reconhecer e a controlar os sintomas de ansiedade, reconhecer os sinais precoces de descompensação (sintomas emergentes), diminuir necessidade de medicamentos e hospitalizações, bem como auxilia no aumento do nível de funcionalidade e adesão à medicação.

A família e os amigos também podem ajudar no tratamento: evitar o estigma e o preconceito: não fazer comentários críticos e preconceituosos; ajudar a construir um ambiente familiar harmônico, com mais tolerância e acolhimento evitando críticas e discussões6.

Associações: Participar de associações sem fins lucrativos que desenvolvem programas psicoeducacionais e promovem a formação de grupos de autoajuda como a ABRATA.

  1. Yerkes RM, Dodson JD. The relation of strength of stimulus to rapidity of habit-formation. J Comp Neurol Psychol. 1908;18:459–82.
  2. American Psychiatric Association (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5), Porto Alegre: Artmed, 2014.
  3. Sylvester CM, Pine D. Anxiety disorders. In Joan L. Luby (Ed.), Handbook of preschool mental health: Development, disorders, and treatment. 2nd ed. New York, NY: Guilford. 2016.
  4. DuPont RL, DuPont CM, Rice DP. Economic costs of anxiety disorders. In D. J. Stein & Hollander (Eds.), Textbook of anxiety disorders. Washington, DC: American Psychiatric Publishing. 2002; pp. 475–483.
  5. Kessler RC, Ruscio AM, Shear K, Wittchen HU. Epidemiology of anxiety disorders. Curr Top Behav Neurosci. 2010;2:21-35.
  6. Barlow DH. Anxiety and its disorders. The nature and treatment of anxiety and panic (2nd ed.). Nova Iorque: Guilford. 2002.
  7. Rangé BR. Psicoterapias Cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. p.299-310.

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