Grupos Psicoeducacionais para familiares

Juliana Yacubian – Professora Doutora em psiquiatria FMUSP

A evolução dos tratamentos psiquiátricos tem mantido os indivíduos portadores de transtornos mentais na comunidade, priorizando o acompanhamento ambulatorial e evitando internações prolongadas e institucionalização. Desse modo, a responsabilidade pelos cuidados com o doente mental passa a ser menos das instituições e mais das famílias, que passaram a ser mediadoras entre o doente mental e o sistema de saúde. Entretanto, frequentemente, não são fornecidos aos familiares ou a comunidade informações básicas ou um treinamento formal adequado para o manejo diário desses indivíduos. Os familiares sentem-se despreparados e com muitas dúvidas no cuidado de um parente com doença mental.

Para auxiliar essas famílias, a psicoeducação vem sendo implantada em diversas instituições. Sua função é ensinar aos membros da família à doença mental, os tratamentos, as necessidades do paciente, suas capacidades de desenvolvimento e habilidades, prevenção de recorrências e convivência harmônica.

A eficácia da psicoeducação tem sido comprovada por rigorosas pesquisas que têm encontrado níveis de recaída menores em doentes mentais cujas famílias participam de intervenção psicoeducacional em relação àqueles que seguem apenas a conduta medicamentosa sem a intervenção familiar.

As famílias que recebem esse tipo de educação tornam-se capacitadas para exercerem algum controle sobre as intervenções médicas e não apenas sentirem-se culpadas por terem parentes doentes e se colocarem em posição passiva como se fossem unidades patogênicas.

As reuniões psicoeducacionais são realizadas com familiares de pacientes que possuem o mesmo diagnóstico e têm os seguintes objetivos: Proporcionar informações científicas com um custo menor que o trabalho individual com uma família; Oportunidade para familiares trocarem suas experiências com profissionais e outras famílias; Estimular famílias hesitantes a participarem da escolha de melhores meios de cuidado do doente mental.

Participam, como psicoeducadores, médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos. Os participantes comparecem no dia marcado, em local preestabelecido, no início da manhã e recebem a programação do dia, dividida em dois períodos. As aulas do primeiro período fornecem um conteúdo científico da doença mental, contendo aspectos etiológicos, diagnóstico, quadro clínico, tratamentos medicamentosos, psicoterápicos e psicossociais e duram de vinte a trinta minutos.

Essas aulas transmitem aos familiares desde conceitos básicos até novos conhecimentos. Este tipo de postura proporciona segurança e otimismo aos familiares que percebem que não estão submetidos a uma doença misteriosa ou desconhecida, diminuindo as falsas crenças e dando uma noção dos avanços que potencialmente podem ser desenvolvidos na área de saúde mental.

Entre os períodos é realizada uma pausa de trinta minutos. É servido um lanche e ocorre uma confraternização entre os participantes, que conversam entre si e com os psicoeducadores, podendo esclarecer dúvidas e trocar experiências.

No segundo período, as aulas abordam a relação da família com a doença mental, os sentimentos gerados pela doença, as reações adaptativas normais e anormais dos membros da família, como a família pode colaborar com o tratamento e com a reinserção social do paciente, melhores maneiras de controle de alteração de comportamento e detecção de sinais precoces de recaída.

Ao término das aulas os participantes são divididos em grupos de no máximo oito pessoas, dirigidos por um ou dois psicoeducadores. Os familiares podem esclarecer dúvidas particulares, trocar experiências, fazer reclamações ou trazer novas ideias.

Este modelo vem sendo utilizado no IPq do HC-FMUSP sob a orientação do Dr. Francisco Lotufo Neto.

A ABRATA utiliza um modelo de encontro psico-educacional adaptado às suas necessidades, recebendo portadores, familiares, amigos e profissionais de saúde mental.

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